1 Os Irmãos Morávios
- Com o advento da Reforma do Século 16, os herdeiros de Jan Hus, os “irmãos unidos”, abraçaram o protestantismo. Nessa época, eles contavam com cerca de 400 igrejas locais e 150 a 200 mil membros na Boêmia e na vizinha Morávia.
- Expulsos de sua pátria durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), eles se espalharam por diversas regiões da Europa e perderam muitos adeptos.
1.1 Guerra dos Trinta Anos
Um ano especialmente amargo foi 1621, quando quinze irmãos foram decapitados no chamado “dia de sangue”.
- Muitos crentes foram mandados para as minas ou masmorras; igrejas foram fechadas e escolas destruídas; Bíblias, hinários e catecismos foram queimados.
- Os poucos remanescentes continuaram a realizar as suas funções religiosas em segredo e a orar pelo renascimento da sua igreja.
Expulsão de um pastor morávio
- Um importante líder desse período aflitivo foi o notável educador Jan Amos Comenius (1592-1670), eleito bispo dos irmãos morávios em 1632.
- Noventa anos mais tarde, uma série de acontecimentos notáveis daria novos rumos e renovada vitalidade ao movimento morávio.
Jan Amos Comenius e sua casa
Cartilha de Comenius
Comenius e fiéis
Em 1722, sobreviventes dos irmãos unidos que falavam alemão, residentes no norte da Morávia, começaram a buscar refúgio na vizinha Saxônia, sob a liderança de um carpinteiro, Christian David.- O jovem conde Nikolaus Ludwig von Zinzendorf (1700-1760) permitiu que eles fundassem uma vila em sua propriedade de Berthelsdorf, cerca de 110 km a leste de Dresden.
Zinzendorf
Christian David
Condessa Zinzendorf
O conde Zinzendorf era fruto do pietismo, um influente movimento que havia surgido recentemente no luteranismo alemão.- Esse movimento teve como líderes Phillip Jacob Spener (1635-1705) e August Hermann Francke (1663-1727).
- Seu principal centro de atividade era a cidade de Halle, também na Saxônia, a terra de Martinho Lutero.
Phillip Jakob Spener
August Hermann rancke
Pia Desideria (Desejos Piedosos)
1.2 Pietistas
- Os pietistas davam grande ênfase à devoção, à experiência e aos sentimentos, em contraste com a ortodoxia, credos e rituais.
- Também valorizavam a conversão pessoal, o sacerdócio universal dos crentes, o estudo das Escrituras, os pequenos grupos para comunhão e auxílio mútuo, bem como um cristianismo prático voltado para educação, missões e beneficência.
- Nascido em uma família aristocrática, Zinzendorf recebeu uma educação pietista em Halle dos dez aos dezessete anos.
- Desde a infância revelou uma intensa devoção pessoal a Cristo e mesmo depois de ingressar no serviço público, em 1721, continuou a ter como interesse predominante o cultivo da “religião do coração”.
1.3 Liderança de Zinzendorf
- Foi então que Zinzendorf entrou em contato com os morávios. De início lhes deu pouca atenção, porém em 1727 começou a assumir a liderança espiritual desse grupo.
- Superadas algumas divisões iniciais, no dia 13 de agosto de 1727 foi realizado um marcante culto de comunhão que veio a ser considerado o renascimento da antiga Unitas Fratrum, a Igreja Morávia renovada.
- A partir de então, Herrnhut tornou-se uma disciplinada e fervorosa comunidade cristã, um corpo de soldados de Cristo ansioso em promover a sua causa no país e no exterior.
- Embora Zinzendorf desejasse que os morávios permanecessem como membros da igreja estatal da Saxônia (luterana), gradualmente eles formaram uma igreja separada.
Herrnhut
Em 1745 a Igreja Morávia já estava plenamente organizada com seus bispos, presbíteros e diáconos, embora seu governo fosse, e ainda seja, mais presbiteriano que episcopal.
- A essa altura o moravianismo estava criando uma liturgia de grande beleza e uma rica tradição hinológica.
- A Igreja Morávia restaurada permaneceu pequena, mas sua influência se fez sentir em toda a Europa.
- Seus primeiros bispos foram David Nitschmann (1735) e o próprio Zinzendorf (1737), que após uma vida de intensa atividade missionária e pastoral na Europa e na América do Norte faleceu em Herrnhut em 1760.
- Certa vez ele havia declarado, referindo-se a Cristo: “Eu tenho uma paixão; é ele e ele somente”.
Dados
- Durante os próximos 150 anos enviaram 2170 missionários a diferentes campos estrangeiros. O relatório de 1930 fala de 136 lugares principais alcançados onde residiam 366 missionários.
- 2442 obreiros nacionais, ainda em 1930 feles contabilizaram 75 mil cristãos batizados e mais de 35 mil alunos em seus seminários. Enquanto em média as igrejas protestantes enviavam 1 missionário em cada 2000 ou 3000 mil membros, os morávios enviou 1 missionário em cada 92 membros.
Aplicação para a igreja de hoje
- Sem dúvida, sua influência missiológica acarretou em atividade de missionários em diversos campos estrangeiros, sua força então, sempre em preocupação com a vida dos irmãos, a educação religiosa e sua devoção são a causa de uma igreja ativa, isso não só visto pelos morávios, mas também pelos pietistas, pois, Zinzendorf com suas raízes pietistas, não deixou de assumir um compromisso de disciplina, fervor na obra e na comunidade cristã, espalhando assim sua causa no país e no exterior.
- As igrejas de hoje, estão preocupadas com suas doutrinas, seus interesses, seus templos, e o amor com missões, são mostrados através do envio do dinheiro, quando se precisa de missionários no campo, pessoas comprometidas com as vidas tanto no seu país quanto no exterior.
- Sem dúvida, é muito bom não passarmos por perseguições como os morávios passaram, mas essa perseguição gerou um sentimento de perseverança e necessidade de proclamar o evangelho, Deus pode utilizar isso para acordar sua igreja hoje.